Meu amigo petista


Por Elizabeth Rondelli, Doutora em Ciências Sociais, professora aposentada das Universidades Federais do Rio de Janeiro e de Juiz de Fora.

Tenho um amigo petista (pessoa incrível e honestíssima), que escreveu sobre o relatório da OIT – Organização Internacional do Trabalho, mostrando que a pobreza no Brasil caiu 36% em 6 anos, e dizendo que deve ter gente mordendo os cotovelos de tanta raiva. Não resisti e respondo publicamente.

Rir com dente é fácil

Dra. Elizabeth Rondelli

Dra. Elizabeth Rondelli

Quero ver agora que o preço das commodities caiu, que o modelo de exploração de petróleo criado pela presidenta prova-se inviável, que a Petrobras não consegue mais segurar a inflação artificialmente baixa, que o pibinho petista não vai sequer chegar a 2%, que o Brasil começa a ser encarado como um país onde é difícil fazer negócio por tanta intervenção e achaques às empresas, que o prazo razoável de fazer as importantes reformas (previdenciária, tributária, fiscal, política…) já venceu, que não houve um mísero progresso nas variáveis que impactam o aumento da produtividade e da competitividade (infraestrutura, educação, ciência e tecnologia), que todos os esforços foram direcionados à anabolização dos números no curto prazo em detrimento da poupança e do investimento no longo, que os sete (eu disse SETE) pacotes lançados nos últimos meses para tentar ressuscitar o paciente moribundo mostraram-se tão patéticos quanto as pessoas que os maquinaram, que as famílias estão endividadas até o talo de tanto estímulo ao consumo, que a arrecadação já dá demonstração de queda (mesmo com o aumento das alíquotas, o que representa perda real em base tributável — ou atividade econômica)…

Eu poderia continuar por mais uma semana elencando a sequência de burradas dos governos petistas. E olha que eu nem entrei no mérito moral — aí, é “capivara” mesmo, ficha policial.

Com economia aquecida e uma carga tributária boçal (em ambos os sentidos: quantidade e qualidade), é fácil ter muito dinheiro para gastar. Distribuir aos pobres parece coisa de gente de bom coração. Renda na mão de pobre vira consumo e consumo conta para o PIB. E, na mão de petista, vira voto na certa. Mas, agora que o dinheiro vai começar a rarear, quero ver onde vai estar o coração dessa gente. Ou vão cravar mais fundo os dentes no setor produtivo da sociedade ou vão ter que escolher o que deixa de receber recursos. Tenho certeza de que o caixa 2 das campanhas eleitorais deles está garantido — até porque este parece ser (por mais surreal que possa parecer) o ÁLIBI dos 36 réus do mensalão.

O fato é que, 10 anos depois, o pobre brasileiro pode ter ficado momentaneamente menos pobre na carteira, mas não se tornou um milímetro mais capaz de enfrentar os desafios do mundo moderno em que o país compete. Basta ver que os analfabetos funcionais das faculdades de gesso do Luladdad chegam a 38% (é inacreditável, mas é verdade).

Acabada a farra da gastança, voltaremos para a mesma estaca em que estávamos antes. Um pouco piores, na verdade, graças aos retrocessos que representam os constantes ataques às instituições da sociedade (a Justiça, a liberdade de imprensa, a independência dos poderes, o que restava de honradez no Congresso, a política externa que deixou de servir à nação para se dobrar a um projeto particular de poder…) e às bases da economia de mercado tão sólidas que os petistas herdaram de seus antecessores mais capazes (a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Bolsa Escola — este, sim, carregava uma contrapartida que produzia um efeito positivo no longo prazo em vez de boçalizar a população com esmola–, a autonomia do Banco Central, a confiabilidade dos dados oficiais, o modelo de privatização, o ordenamento jurídico que atraiu o investidor estrangeiro, a estabilidade econômica e de regras…).

Eu não mordo os cotovelos porque as pessoas estão menos pobres. Mordo de ver que o PT transformou em mais um voo de galinha a maior oportunidade que o Brasil jamais teve de entrar definitivamente para a elite global.

Mordo de ver que gente inteligente como você não consegue perceber a destruição do nosso futuro que está sendo promovida dia após dia por gente que só quer se locupletar e perpetuar seu poder sobre a máquina estatal — cada dia maior e mais nefasta para a economia e, por extensão, à sociedade.

Mordo de ver que estamos abandonando as fontes que trouxeram riqueza para este país para nos alinharmos cada dia mais aos membros do Foro de São Paulo — do qual fazem parte o mais abominável ditador do século na América do Sul e o grupo narco-guerrilheiro que ele apoia no país vizinho.

Mordo de ver que gente do bem ainda se alinha aos maiores bandidos que já ocuparam o poder central deste país. Mordo de pena. Mordo de tristeza. Mordo de desesperança.

Boate e servidor público


A desgraça na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul

Construir uma boate que receba até duas mil pessoas por noite, dançando e bebendo. Esse é o desafio estúpido a ser superado. Mas, no mínimo, há de ser um prédio com segurança absoluta para todos os frequentadores.

Porém, não é o caso da Boate Kiss, que pegou fogo na madrugada de domingo passado e deixou a marca tétrica de mais de 230 jovens mortos, em sua maioria por asfixia com gases tóxicos. O teto parece haver sido rebaixado e recoberto com material inflamável, para “proteção acústica”, pasmem. O espaço interno é bem reduzido, pintado de cor escura, mal iluminado e cheio de labirintos, a facilitar “acidentes coletivos”.

O evento lastimável e fora de controle

O evento lastimável e fora de controle

De acordo com a planta da boate, publicada por diversos meios, a casa tem uma estreita entrada/saída, controlada por seguranças privados que não permitem a saída de qualquer frequentador sem apresentar as “comandas pagas”.

Isso não é uma boate; trata-se de um Campo de Concentração Privado!

Resta saber quais as instituições do setor público que legalizaram esse Campo de Concentração e, com absoluta certeza, quem é o verdadeiro proprietário do Campo Kiss. Certamente, não são os dois laranjas que se apresentaram à polícia.

Há diversas fontes a afirmar que o proprietário do Campo Kiss é um deputado federal, ligado a Marcos Valério e à quadrilha do Mensalão. Isso leva muitos a pensar que todo servidor público brasileiro, seja ele eleito, concursado ou nomeado por ser um “companheiro leal à causa da quadrilha”, pode tornar-se uma ameaça criminosa. E sempre à revelia das necessidades e desejos da maior parte do povo brasileiro.

Se há dez anos esse fato não era nítido, hoje parece ser uma verdade incontestável, pois há hierarquia nas atuais quadrilhas políticas em exercício e é visível até mesmo para qualquer observador cego e desatento.

Há três dias que parte da imprensa brasileira “incendeia e queima” milhões de reais tóxicos para trazer na tela entrevistas com uma pilha de ordinários serviçais públicos de nosso país. E ao narrarem como veem a tragédia, fazem autoelogios, dizendo sempre haver cumprido suas obrigações funcionais. Com cenhos franzidos e severos, tentam demonstrar que são excepcionais gestores públicos. No entanto, comprovam no máximo que são apenas espécimes oportunistas, capatazes vendidos ao exercício de ideologias populistas, lotadas de porca demagogia.

E o que resta deste brutal acidente? Por enquanto dor; muita dor e muito luto.

O Luto e a Dor

Luto e Dor

Serra da Bocaina, ideias cristalinas


Ricardo Kohn, Gestor do Ambiente.

O território brasileiro tem sua geografia cheia de pequenas montanhas, morros e morrotes, a que chamamos de regiões serranas. Elas estão presentes em vários cantos de todos os estados. É a formação geomorfológica de grande parte do Estado de Minas Gerais, que recebeu o apelido carinhoso de “Mar de Morros”.

O motivo do Brasil não possuir sequer uma potente cordilheira de montanhas não é político, mas Geológico. Seu território dormita sobre uma placa tectônica bastante calma em sua parte leste, no Atlântico Sul: a Placa Sul-americana. Por isso, sem choques entre-placas, sem terremotos, nossas montanhas não crescem diariamente e não temos nada parecido com os Alpes, os Andes e o Himalaia. Nosso Everest é o nanico e pacato Pico da Neblina (2.994 m), localizado em região serrana, ao norte do Amazonas. Isso é ótimo!

Podemos escolher qualquer região de serra no Brasil e seguir para uma estadia confortante. Acreditamos que qualquer cidadão maduro e de bom senso seria capaz de viver feliz com sua família em um pequeno refúgio de “madeira e sapê”, cravado em alguma serra do país.

Refúgio particular na Serra da Bocaina

Refúgio particular na Serra da Bocaina

A foto acima mostra uma pequena porção de terra de uma fazenda de 10 km2 (1.000 ha) adquirida na Serra da Bocaina, por Ricardo Roquette-Pinto há cerca de 30 anos, em Bananal, São Paulo, na esquina com o Rio de Janeiro.

Com pouco mais de 40 anos de idade, após adquirir a fazenda, Ricardo investiu dinheiro e mais 20 anos para torná-la produtiva. Deu em nada, pois sua declividade era elevada, o solo pobre e não se prestava para agricultura. Como ele próprio disse sobre sua atitude quando chegou pela primeira vez às terras que acabara de comprar:

─ “Com aquela arrogância do ser urbano que vem para o mato e acha que vai conseguir fazer um projeto rentável; cheguei até a criar burro. Nada deu certo”.

Mas é óbvio que Ricardo aprendeu bastante acerca de suas terras e de como usá-las de forma mais inteligente. A ponto de participar de um leilão e adquirir outra fazenda situada ao lado, com área próxima de 11 km2 (1.100 ha).

A antiga proprietária dessas terras cometera crime ambiental ao retirar Mata Atlântica nativa para produzir madeira com plantação de eucaliptos e pinos. Ricardo Roquette-Pinto extirpou essas manchas exóticas da fazenda recém-arrematada e reabilitou as áreas com espécies nativas de Mata Atlântica. Decerto, já tinha em mente o arcabouço do Projeto Águas da Bocaina. Sua aposta era que o valor de uma propriedade rural também pode ser aferido pelo volume de biodiversidade que ela contém e que há mercado para esse bem ambiental.

Sobre o Projeto Águas da Bocaina

As duas fazendas estão situadas junto ao Parque Estadual de Cunhambebe, à Estação Ecológica do Bananal, ao Parque Nacional da Serra da Bocaina e a uma Reserva Indígena. O projeto está sendo implantado apenas na fazenda adquirida em leilão e Ricardo estabeleceu os seguintes critérios e condições contratuais:

  • As terras foram divididas em 29 glebas para serem vendidas, cada uma com área entre 30 a 40 hectares.
  • Cada gleba foi registrada em cartório como RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural, ou seja, área de conservação ambiental em terra privada em que o proprietário assume em caráter irreversível o compromisso de conservar sua terra).
  • O proprietário de uma gleba somente pode usar 5% de sua área para construir sua casa ou uma pousada para turismo de cunho ambiental.
  • É vedado ao proprietário de uma gleba, desmatar, cultivar o solo e criar gado.
  • O proprietário de uma gleba pode repassá-la, mas sem modifica-la, mantendo para o sucessor as mesmas condições acima.

Pelas glebas do projeto Águas da Bocaina, passeiam cotias, porcos do mato, iraras, veados e onças pardas. Sua vegetação serve de habitat para 244 espécies de aves, onze delas ameaçadas de extinção. Por ali, voam oito espécies diferentes de pica-paus, nove de aves de rapina, além de beija-flores, tiribas, saracuras, saíras, sanhaços e canários-da-terra. Todo este conjunto de flora, fauna e água dá ao projeto um aspecto de Éden perdido na região mais povoada do Brasil.

Não há dúvida de que Ricardo realiza uma das maiores iniciativas particulares de conservação da ambiental do país. Especificamente na Serra da Bocaina o projeto preserva boa parte das fontes de água que abastecem Rio e São Paulo.

Ricardo Roquette-Pinto

Ricardo Roquette-Pinto

Já foram vendidas quatro glebas. Ricardo cobra o preço médio de R$ 1,00 por metro quadrado, financiados. Isso significa que uma gleba de 40 hectares (400.000 m2) possui valor bem acessível, sobretudo para aqueles que amam o Ambiente como fundamento de suas famílias.

Todas as glebas têm água, mas pode ser de fonte, de rio ou de afluente. E há lugares em que a vista é melhor. Dessa forma, o preço poderá variar um pouco.

De qualquer forma, Ricardo diz que não venderá todas, como é o caso de uma que tem uma cachoeira que batizou com o nome de sua neta de 17 anos. Todos terão acesso gratuito a essa gleba. Há outra que também não será negociada, pois possui uma fonte de água natural para ser usada gratuitamente por todos os proprietários de glebas.

As pessoas que querem comprar glebas

Diz Ricardo:

“Tem gente interessada que não vendo, como um cara que me perguntou: ‘Quantos litros de leite vai dar o terreno?’ Nenhum, porque aqui não vai ter vaca. O argumento mais forte aqui é a exuberância da natureza. É abrir a janela de manhã e se maravilhar. Se a pessoa é casada, só posso vender se houver paz no matrimônio. Toda a família tem que gostar. Aqui é distante, não tem supermercado e manicure. Ou você gosta de mata ou vai para Campos de Jordão. Quero ter gente aqui que pensa como eu. Quando entro na mata me sinto como aquelas carolas que visitam a Basílica de São Pedro, no Vaticano: Meu Deus do céu!”.

Fotos da área do Projeto

Cachoeira do Rio do Braço

Cachoeira do Rio do Braço

O poço formado por queda d'água

O poço formado por queda d’água

Tangará (Chiroxyphia caudata)

Tangará (Chiroxyphia caudata)

A beleza da polinização


As flores se abrem e gotas d’água as iluminam.

Nesse espaço todos trabalham duro e com horário determinado.

Criam grandes grupos de trabalho que se auxiliam mutuamente.

Alma de abelha

Alma de abelha

Nunca se misturam e sempre se combinam.

Metamorfoses, mastigações, perseguições e delicadas polinizações.

Contudo, todos competem graciosa e velozmente.

Porém, acima de tudo, compartilham e cantam enquanto trabalham.

Beija Flor atrevido

Beija Flor atrevido

Assistam ao vídeo The beauty of pollination.

Guardem para vocês. É indescritível. Só vendo!

A peça de teatro e o artigo opinativo


Não tivemos a oportunidade de assistir à peça de teatro. Todavia, lemos o recente artigo de autoria do jornalista Guilherme Fiuza, que tem o mesmo título da peça: “Sorria, você está sendo roubado”. O artigo chega a ser cômico, mas também é conclusivo e aterrador.

A peça teatral foi uma suave crítica sociopolítica, carregada de comicidade e música. O artigo, no entanto, faz crítica intensa e cheia de eletricidade factual. De certa forma, ambos remetem-nos a problemas que, neste século 21, se alastraram com volúpia insana pelo país: furtos, roubos, latrocínios e, sobretudo, corrupções políticas. Obviamente, não existe brasileiro que não tenha sofrido efeitos de pelo menos um desses atos de delinquência, em especial o do “assalto ao Estado”.

Sorria, você está sendo ostensivamente encurralado

Sorria, você está sendo ostensivamente encurralado

A ditadura de mentiras ostensivas, a omissão de fatos e informação, as “contabilidades criativas” e as blindagens de camaradas tornaram-se a cultura nacional dominante e que não pode ser rebatida por quem dela discorde. Tornou-se Verdade Absoluta, verdadeira Instituição Pública, enterrada goela abaixo da sociedade pelo cinismo político sistemático e legalizado.

Que todos aguardem a realização das “promessas de 2013”. Ou não…

Caleidoscópio de artigos


Caleidoscopia

Caleidoscopia

Está-se a indicar 15 dos artigos que se encontram publicados no blog até esta data. Para os interessados, basta selecionar e clicar em um dos links grifados em vermelho.

Às vezes paradoxos são venerados.

As geometrias do impossível.

Le Brésil ce n’est pas un pays sérieux.

A herança: greves, greves e mais greves!

Bases para elaborar propostas de estudos (ambientais).

O Apocalipse da Terra, segundo José Arguëlles.

Continuando: sobre o Apocalipse do Brasil.

Não peça ao país o que ele não sabe mais fazer.

Os humanos inventam norma para certificar qualquer coisa.

Frases “quase famosas” do século XXI.

Os violentos impactos ambientais da mineração.

A Judicialização dos Estudos Ambientais no Brasil.

Esgotos confabulam sobre “desenvolvimento sustentável”.

Desempenho Ambiental e Sustentabilidade (diferenças entre os dois conceitos).

“Ecologicamente Correto” ou “O Paradoxo dos Sustentáveis”.

“Brasil, um Retrato”


Brasil, um Retrato” é o título de mais um livro que Gilberto de Abreu Sodré Carvalho está lançando neste momento. Terá duas versões complementares, uma impressa e outra em formato digital (Kindle).

Sobre o teor do livro, encontra-se o seguinte texto, bastante esclarecedor e estimulante:

Capa de Brasil, um Retrato“Este livro revisita o tema do clássico ‘Os Donos do Pode’r, de Raymundo Faoro. No entanto, o autor é otimista quanto ao futuro. O poder político, no Brasil, corresponde ao domínio de oligarquias regionais que penetram o Governo e as instituições públicas. Observa-se que ininterruptamente, desde 1500, os oligarcas unem-se às elites políticas, empresariais e sociais, formando associações de conquista. Toda ação governamental federal, estadual e municipal leva em conta o proveito privado que pode ser proporcionado mesmo no bojo de ações de proveito público. O livro aponta que existem atualmente condições para que o poder político mude para as mãos do povo. Amadureceu o tempo para tanto. O livro mostra que os brasileiros e brasileiras podem assumir sua cidadania política e “governar o Governo”. O caminho para tanto está no fortalecimento das relações de monitoramento social e responsabilização dos governantes, cada vez mais feito pela Imprensa e redes sociais na Internet; e na reforma da representação eleitoral no Congresso Nacional, com vistas ao critério de ‘uma pessoa, um voto’.”

“Em resumo, Gilberto responde a três perguntas que costumamos fazer:”

  • Por que somos um povo apático?”
  • Por que somos tão desiguais socialmente?”
  • Como vencermos apatia e desigualdade?”

Sobre a experiência profissional e acadêmica de Gilberto no link do livro lê-se essa singela passagem sobre ele:

“Por 40 anos foi advogado interno e consultor de grandes corporações, e membro de colegiados de planejamento estratégico e relações com governo, em holdings. Além disso, é acadêmico e autor de diversos livros, artigos e papers. Gilberto é também genealogista e historiador voltado para o início do século 18 brasileiro. Sua capacitação como “sociógrafo” o ajudou no argumento principal de ‘Brasil, um Retrato‘: um conjunto de associações privadas tomou o controle do Governo Brasileiro desde 1500 até o corrente ano de 2012”.

Para os interessados em saber mais acerca deste trabalho, mais detalhes sobre seu autor e como adquiri-lo, façam como nós, acesse o link Brasil, um Retrato.

Atenção: ladrão de senhas à vista!


Para quem movimenta contas bancárias em cybercafés.

Em meados da década de 2000 foi desenvolvido um software para ser usado por pessoas que compartilhavam um mesmo computador ou para que o dono de um computador pessoal pudesse saber como ele foi usado e por quais endereços navegou na internet. O aplicativo chama-se Keylogger e armazena no disco rígido do computador tudo o que foi digitado em seu teclado. Até aí, tudo bem.

Contudo, recebemos a notícia de que foi desenvolvido um pequeno dispositivo de hardware, que é aplicado entre a conexão do cabo do teclado com o computador, e é capaz de armazenar nele mesmo tudo o que for digitado no computador. Aí, a coisa fica feia!

Vejam nas duas fotos abaixo o formato desse dispositivo e como ele é conectado fisicamente ao computador. Um detalhe, lembrem-se que as cores podem ser diferentes.

O Hardware Keylloger

O Hardware Keylogger

A conexão do Keylogger

A conexão do Keylogger

Se este dispositivo realmente pode gravar tudo o que é digitado, nossos Nomes de usuário e Senhas sempre serão sigilos facilmente quebrados e capturados por terceiros.

Sem qualquer medo ou paranoia, os que usam Lanhouses e Cybercafés devem, antes de usar qualquer máquina disponível, verificarem se há um hardware Keylogger em seu caminho. Basta olhar a ponta do cabo do teclado e sua entrada no computador. Tem que ser uma conexão direta, “sem intermediários”. Se não for possível ver a conexão Teclado-Computador, sugerimos que se retirem do recinto e procurem outra casa, de prefarência a sua própria.

Lanhouse, usuários e internet

Lanhouse, usuários e internet

Parabéns ao Xangai style!


É bastante complexo engendrar soluções urbanísticas para espaços urbanos onde trafegam veículos e milhões de pessoas diariamente. Nas grandes metrópoles brasileiras, com ênfase para a de São Paulo e do Rio de Janeiro, o tráfego é incontrolável e quem sofre são os pedestres mais conscientes que se movimentam a pé.

Quando muitas vias convergem ou partem de um único ponto da cidade, o trânsito costuma ficar caótico. E a melhor solução que a engenharia encontrou para o problema até hoje foi a rotatória de veículos, um recurso que permite os cruzamentos, mas não elimina as colisões e a bagunça em que se transformam. Pior, dificulta a vida do pedestre, o último a ser notado por motoristas mais preocupados em sair ilesos da roleta.

Mas não no bairro de Pudong, em Xangai, na China. Lá, os pedestres ganharam uma rotatória só para eles. Ela possui vários acessos com escadas rolantes e várias saídas. É uma solução de planejamento urbano e não da engenharia: a passarela circular Lujiazui, construída do lado leste do rio Huangpu, na zona econômica e financeira da cidade, cercada por arranha-céus, onde há 15 anos não havia nada além de terra e solo exposto. Isso mesmo, há apenas 15 anos!

Rotatória para pedestres

Rotatória para pedestres

Suspensa quase 20 metros acima da rua, a passarela permite que os pedestres passem de um lado a outro da rotatória em segurança, percorrendo o mesmo trajeto circular dos automóveis. De brinde, eles ainda têm a chance de assistir de camarote às confusões em que os motoristas se envolvem, logo abaixo.

A passarela dá acesso ao edifício Oriental Pearl Tower, conectando os prédios de escritórios do centro financeiro das redondezas a áreas de lazer e compras, como shoppings e cafés.

Urbanismo para milhões de pessoas

Urbanismo inteligente para milhões de pessoas

Com 5,5 metros de largura, a via aérea permite que 15 pessoas caminhem lado a lado, facilita o acesso aos transportes públicos e ainda é toda iluminada à noite, o que dá um bonito efeito à região. Além disso, vãos longos entre colunas também proporcionam agradáveis experiências em relação ao nível da rua, de onde se pode ver a cidade um pouco mais do alto, tornando a rotatória ideal também para passeios turísticos.

Com vários acessos e saídas inteligentes

Com vários acessos e saídas inteligentes

Parabéns ao Xangai style. Além de solução inteligente, limpeza e tratamento paisagístico.

Conselhos ambientais para investidores


O fato de alguns conselhos serem gratuitos não significa que possuem pouco valor. Aliás, funciona bem ao contrário do que diz a sentença: Se conselho fosse bom, seria vendido e não doado.

Desde a criação da web, no início dos anos 90, o homem pensou que talvez fosse possível iniciar um ciclo cultural e econômico com elevada velocidade. Em outras palavras, ficar rico da noite para o dia.

A internet, como serviço público e gratuito (por sinal, um excelente conselho!), acoplada à web, deu origem a um verdadeiro vendaval de trocas instantâneas de informação entre empresas, instituições e pessoas residentes em diversos países. Estima-se que, a partir de 2001, quase 90% das nações já conseguiam utilizar os serviços livres da rede.

No entanto, passada a primeira década do século 21, com a tecnologia da informação sendo apurada de forma expressiva a cada segundo, ainda existem governos que não permitem que seus povos usufruam dessa realidade. Príncipes, xeiques, ditadores e governantes extremistas “protegem seus cidadãos do contato perigoso com informações contagiosas”.

Todavia, os investidores não estão muito preocupados com os povos que não têm internet. Na verdade, tentam encontrar projetos com grande impacto econômico, capazes de vender diariamente pela rede, algo bem simples como um “palito de dentes”, desde que a cada um dos quase 7 bilhões de habitantes do planeta.

Fabulosa esta miragem. Seria ótimo se fosse fácil de toca-la. Mesmo assim, nesses 22 anos de existência da internet, já são numerosos os jovens milionários que se autoproduziram exclusivamente através de seu uso comercial. Não vendem suas ofertas a sete bilhões de clientes, mas atingem a parcelas consideráveis do mercado mundial. E, muitas vezes, aplicando apenas um reduzido “capital virtual”.

Investimentos reais

A maioria dos grandes investidores, entretanto, realiza investimentos concretos e pesados. Para alcançarem resultados positivos, reúnem equipes de advogados, engenheiros e economistas que analisam as chamadas “regras do jogo” de diversos países. Precisam ser regras nacionais firmes que, a princípio, possuam potencial frutífero para os negócios que pretendem realizar. Sendo assim, elaboram complexas análises de risco para definirem qual o melhor país a receber seus investimentos. Além disso, por questão de segurança do retorno dos investimentos, sempre trabalham com foco de curto, médio e longo prazo. Contudo, em nosso entender, deveriam ter postura de monges. E isso não é demagógico, nem cretino; é apenas possível e desejável.

Monges do Ambiente

Monges do Ambiente

“O crescimento da economia mundial deverá desacelerar para 2,3% neste ano [2012], após ter recuado de 4,1%, em 2010, para 2,7%, em 2011, prevê a Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento – UNCTAD”, em seu relatório de 2012.

Considerando esta pífia estimativa do PIB 2012, concluir que investimentos produtivos sofreram uma expressiva redução é no mínimo razoável. E não foi por ausência de capital disponível. Mas sim, por falta de credibilidade nas “regras do jogo” estabelecidas em cada país recebedor.

Como muitos afirmam, “o capital nunca para”. Desta forma, logo se assistiu a continuidade do célere “jogo de gato e rato”, o qual, especialmente em países desprovidos de condições macroeconômicas e com elevado risco de investimento, é dominado por hábeis seleções de corruptores e corrompidos; quer dizer, alguns gatos especiais e uma gigantesca “rataiada”.

País do século 21

O Brasil raiou no novo século com boas expectativas. Quase livre de mais de três décadas de alguns de seus principais cabrestos e bridões institucionais e econômicos: moeda estável e forte, estatais privatizadas, lei de responsabilidade fiscal aplicável no país, início de melhoria da distribuição de renda, forte credibilidade política internacional, enfim, importantes pilares da nação foram equacionados até o apagar das luzes do século 20.

No entanto, faltaram investimentos no setor de energia, o que resultou no temerário apagão e racionamento de energia ocorrido em 2001. Mas, por outro lado, além de investimentos em linhas de transmissão e geração termelétrica, durante 2001 e 2002 foram iniciados vários projetos para a geração de energia eólica no Brasil, trazendo as primeiras oportunidades para implantar parques geradores em seu litoral. Foi o, reconhecimento da importância das propostas de investidores nacionais e estrangeiros. Eles viram um bom nicho de negócios para diversificar a matriz energética brasileira, então muito concentrada em hidroenergia.

Encerrada a primeira década, a economia brasileira cresceu relativamente nas áreas do agronegócio e da indústria extrativa, sobretudo tendo o Governo chinês como fiel importador de commodities brasileiras. No entanto, teria condições de crescer pelo menos o dobro do que cresceu no período, caso dispusesse de planos públicos de longo prazo e critérios mais inteligentes para priorizar os investimentos de real interesse da sociedade brasileira. O Governo federal preferiu priorizar projetos megalômanos e descabidos, como o projeto da Transposição das Águas do Rio São Francisco e projetos de Usinas Nucleares para geração de energia.

Afora disso, investimentos federais para a simples manutenção das rodovias, aeroportos e portos existentes foram pequenos e localizados, elevando ainda mais, de forma irresponsável, o chamado “custo Brasil”. Para um país que precisava exportar, mesmo que basicamente commodities, a falta desses investimentos prejudicou intensamente diversas cadeias produtivas, até mesmo aquelas relacionadas com os serviços do turismo. A economia brasileira parece ter-se tornado satélite do humor ditatorial chinês.

As obras públicas realmente necessárias foram adiadas ou esquecidas, porque, no dizer dos gestores públicos, eleitos ou nomeados, “o meio ambiente é, sem dúvida nenhuma, uma ameaça ao desenvolvimento sustentável”. Sobre esse tema oferecemos adiante alguns conselhos específicos de ordem ambiental.

Neste início de século, a população brasileira (e mundial) assistiu passivamente diversas comissões parlamentares de inquérito sendo realizadas no Congresso Nacional, por força de diversas operações da Polícia Federal (quase um FBI brasileiro). Viu-se e ouviu-se de tudo, inclusive com vídeos ainda existentes na internet, que comprovam pagamentos de propina a funcionários públicos. Porém, muito pouco resultou de concreto. Ninguém foi preso definitivamente ou devolveu o produto do roubo. Em consequência, a sociedade brasileira foi perdendo seu amor próprio! Parte dele trocou por bolsas públicas populistas.

Chega-se a 2012. Por fim, são julgados e condenados, pelo Supremo Tribunal Federal, uma pequena parte de “gatos especiais” e da “rataiada (1)” corrompida, ficando comprovado que agiam cínica e impunemente pelo menos desde 2003, ficando bilionários da noite para o dia. Segundo o juízo final do STF, desviaram grandes somas de dinheiro público para o uso privado de alguns “gatos e ratos”, sempre organizados em quadrilhas.

Para finalizar 2012, com chave de chumbo explosivo, irrompe na mídia o chamado “Caso Rosemary Noronha”, então chefe do gabinete da Presidência da República, em São Paulo. Está sendo exposto na mídia internacional e nacional um tufão de informações e deboches sobre a conduta desta senhora e suas “relações” com o ex-presidente que a nomeou. Ainda não há nada a comentar, além do que já foi publicado sobre esse assunto. Apenas, ao que tudo indica, o Brasil retornou ao século 19 e prossegue descendo a ladeira política abaixo, em alta velocidade e sem freios. Porém, mais do que nunca, paradoxalmente, precisa de investimentos sérios!

Conselhos ambientais

A par do cenário ameaçador acima narrado, baseado em acontecimentos factuais, o Brasil precisa ser visto por todos os investidores como um grande mercado potencial, que merece seus investimentos e que possui capacidade para dar retornos adequados.

No entanto, a negociação de investimentos produtivos, sobretudo os que demandam obras, não pode ser feita através de “jogos de gatos e ratos”. Precisam ser transparentes, legais e honestos. Precisam ser bem planejados e sem qualquer oferta ou troca de propina com o sistema público. Caso contrário, podem estar certos, a sociedade brasileira irá cobrar juros de agiota extremista, denunciando todos os envolvidos aos juízes do mundo.

A levar em conta as características e dimensões dos biomas brasileiros – Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado, Caatinga e Pampa –, bem como (i) o valor incomensurável dos ecossistemas os compõem, (ii) a necessidade imperativa de conhece-los cientificamente, (iii) os possíveis usos medicinais de suas diversas floras que ainda são desconhecidos e (iv) o suporte que oferecem à vida em geral, inclusive à humana, deve ficar bem claro para todo e qualquer investidor, que pretenda implantar seu negócio em território brasileiro, que se submeterá ao processo de licenças ambientais vigente no país.

Sem entrar em detalhes deste processo, deformado e burocrático brasileiro, muito menos na necessidade urgente de que seja revisado, oferecemos alguns conselhos para os investidores que sabem usar seus ouvidos e cérebros, simultaneamente. Estamos admitindo que a decisão do investimento já se encontrada efetuada. Seguem os nossos conselhos, primários e gratuitos:

  1. Mantenha em sua equipe de viabilidade preliminar e análise de risco do investimento pelo menos um consultor ambiental, antes de economistas e engenheiros;
  2. Não tenha pressa para fazer projetos e obras, pois o mundo de negócios em que você vive é concreto e, infelizmente, não é virtual ou tem vida na internet;
  3. Você precisa ser suave e formal em todos os contatos com funcionários de órgãos públicos ambientais. Faça com que seu mais experiente consultor ambiental o acompanhe. Sempre siga pelos caminhos da hierarquia desses órgãos. Nunca tente acessar suas chefias para by-passar os funcionários contatados, pois você desconhece as relações internas momentaneamente existentes. Documente, assine e registre cada contato e reunião realizada;
  4. A escolha da localização de seu investimento deve ser sempre baseada em varáveis ambientais que a justifiquem. Considere também as variáveis econômicas, tais como mercado consumidor, fornecedores e distribuição de produtos, se for o caso. Mas somente após a análise ambiental concluída;
  5. Realize uma análise de riscos ambientais para a localização selecionada e faça ajustes na localização, se necessário;
  6. Faça uma caracterização ambiental preliminar do empreendimento que você pretende construir. Baseie-se num projeto conceitual de empreendimentos similares. Você estará antecipando uma parte do processo de licenças ambientais;
  7. Selecione um advogado com experiência na área de conformidade legal ambiental e faça um relatório de conformidade do futuro projeto. Você estará antecipando mais uma parte do processo de licenças ambientais;
  8. Elabore um diagnóstico ambiental da área em que se localizará o futuro projeto. Você estará antecipando outra parte do processo de licenças ambientais;
  9. Selecione um consultor ambiental com experiência em estudos para licenciamento e faça um Termo de Referência preliminar para os estudos;
  10. Acompanhe seu consultor ambiental na negociação lícita do Termo de Referência dos estudos junto ao órgão ambiental competente;
  11. Coloque em estado de extrema alerta todos os seus advogados civis, ambientais e criminalistas;
  12. Você, na qualidade de investidor agressivo, precisa possuir a pureza de um monge. Somente assim perceberá o que é a sua existência;
  13. Rogue a todos os santos e mártires que este “decálogo” esteja correto e viabilize seus investimentos no Brasil. Nós acreditamos que são quase perfeitos.

Havendo interesse de algum investidor mais atento, colocamo-nos à disposição para realizar esses conselhos imediatamente. Através de consultoria especializada, o que é normal.

(1) Coletivo de ratos-ladrões.

Excelente crônica da livraria Papirus


A senhora idosa no supermercado

A senhorinha no supermercado

Na fila do supermercado, o caixa diz a uma senhora idosa:

─ A senhora deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não são amigáveis com o ambiente.

A senhora pediu desculpas e disse:

─ Não havia essa onda verde no meu tempo.

O empregado respondeu:

─ Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. Sua geração não se preocupou o suficiente com o nosso ambiente.

─ Você está certo – responde a velha senhora – nossa geração não se preocupou adequadamente com o ambiente.

Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes.

Realmente, não nos preocupamos com o ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisamos ir a dois quarteirões.

Nós não nos preocupávamos com o ambiente. Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. A secagem das roupas era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos e não roupas sempre novas.

Mas é verdade, não havia preocupação com o ambiente naqueles dias. Naquela época só tínhamos somente uma TV ou rádio em casa e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como?

Na cozinha tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usávamos jornal amassado para protegê-lo, não plástico bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar.

Naqueles tempos não se usava motor a gasolina apenas para cortar a grama, era utilizado um cortador de grama que exigia músculos. O exercício era extraordinário e não precisava ir a uma academia e usar esteiras que também são elétricas para funcionar.

Mas você tem razão, não havia naquela época preocupação com o ambiente. Bebíamos diretamente da fonte quando estávamos com sede, em vez de usarmos copos plásticos e garrafas pet, que agora lotam os oceanos.

Canetas?… Recarregávamos com tinta tantas vezes, ao invés de comprarmos outra.

Amolávamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos ‘descartáveis’ e poluentes, só porque a lâmina ficou sem corte.

Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. As pessoas tomavam o bonde ou ônibus e os meninos iam de bicicleta ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só uma tomada em cada quarto e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.

Então, não é risível que a atual geração fale tanto em “meio ambiente”, mas não quer abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco como na minha época?…

P.S: Conheça a página da Livraria Papirus.

Serra do Gandarela: preservação ou ruína


Uma das questões básicas a ser considerada neste artigo é a seguinte: ─ “O que possui maior valor essencial para qualquer povo do mundo: o uso da Água ou a exploração do Minério de Ferro?”.

Tentaremos debater um pouco sobre o que está a ocorrer na Serra do Gandarela e talvez considerar propostas que atendam às suas vocações originais, dentro e fora de seu delicado contexto ambiental.

Localização da Serra do Gandarela

A Serra do Gandarela é um santuário ambiental de difícil ocupação, localizado há cerca de 40 km de Belo Horizonte. Ocupa parte expressiva do município de Barão de Cocais, e partes de Caeté, Santa Bárbara, Rio Acima, Raposos e Itabirito.

Vista da Serra da Gandarela, por Alice Okawara

Vista da Serra da Gandarela, por Alice Okawara

Quatro das principais formações geológicas existentes no chamado Quadrilátero Ferrífero são a Serra do Gandarela, que forma um corredor rochoso com a Serra do Caraça (a leste) e outro corredor ainda maior com a Serra do Curral, a noroeste. A Serra da Moeda situa-se a sudoeste do Gandarela, quase ortogonal a Serra do Curral, conforme a figura abaixo.

Mapa de localização da Serra do Gandarela

Mapa de localização da Serra do Gandarela

Vocações primitivas da Serra do Gandarela

A primeira vocação da Serra deve-se ao fato de constituir um expressivo aquífero natural, dispondo de centenas de nascentes, que alimentam sistematicamente as bacias do Rio das Velhas e do Rio São Francisco, bem como do Rio Piracicaba e do Rio Doce.

Trata-se do mais importante manancial de água a abastecer o Rio das Velhas, a fornecer cerca de 60% da água que abastece Belo Horizonte e 45% da água oferecida à sua região metropolitana.

As águas do Gandarela atendem por fim aos municípios de Caeté, Barão de Cocais e Santa Bárbara, além de outros mais populosos, tal como os municípios de João Monlevade e de Ipatinga.

Na verdade, a Serra do Gandarela constitui, prioritária e ancestralmente, um grande “Quadrilátero de Qualidade Hídrica”, cheio de braços, ramificações e fortes estímulos à vida humana e da biota.

Imagem da Cachoeira do Gandarela

Imagem da Cachoeira do Gandarela

Sua segunda vocação encontra-se em seu substrato, ou seja, rochas e solos, extremamente ferruginosos, conforme demonstra a imagem a seguir.

Caverna em região de Canga aflorante

Caverna em região de canga aflorante

Têm-se informações seguras de pesquisadores brasileiros que já foram identificadas mais de 50 passagens ferruginosas subterrâneas em várias áreas dessa serra. Resta analisa-las devidamente e não permitir a sua destruição, dado que é um patrimônio ambiental milenar e ainda desconhecido em mais detalhes por diversas áreas científicas.

Por sinal, boa parte da vegetação da Serra do Gandarela são formações de campos rupestres compatíveis com esse substrato, chamado por canga ferruginosa [1]. É importante ressaltar que, graças a este substrato ocorrente na região, inúmeras espécies florísticas são raras e/ou endêmicas, basicamente pela necessidade de sobrevivência através da adaptação às condições impostas pelo ambiente – resiliência.

Trembleya rosmarinoides, espécie endêmica na Serra do Gandarela

Trembleya rosmarinoides, espécie endêmica na Serra do Gandarela

Ressalta-se, entretanto, que campos rupestres não são campos de altitude (os campos acima de 1.200 metros), mas convivem com o bioma Mata Atlântica, o qual também recobre áreas da Serra do Gandarela, tanto com remanescentes primitivos de Floresta Estacional Semi-Decidual, quanto com matas secundárias em grau elevado de reabilitação espontânea. Por meio dessa ótica, a Serra do Gandarela constitui, prioritária e ancestralmente, um grande “Quadrilátero de Qualidade Florestal”.

Dadas essas características físicas, vegetacionais e florísticas, a fauna da Serra apresenta elevada diversidade e abundância. Além das espécies faunísticas típicas da Mata Atlântica, há espécies endêmicas da fauna, plenamente adaptadas a ambientes de pouca iluminação, como os das cavernas acima mencionadas. Crê-se que descobertas de “fósseis vivos” ainda poderão ser realizadas nesses inúmeros ambientes subterrâneos.

Aproveitando a consideração sobre os “eventuais fósseis vivos”, resta a última vocação primitiva potencial da Serra: o gigantesco laboratório em que ela se constitui para estudos e pesquisas paleontológicas e arqueológicas. Apenas para citar um fato incontestável, “Em Santa Bárbara e Rio Acima há, no interior da Serra do Gandarela, um importante sítio paleontológico, considerado de importância mundial, com fósseis de vegetação que ocorreu na região entre 10 a 40 milhões de anos passados. A maior parte dele está no território de Santa Bárbara e é protegida por tombamento municipal”.

O uso das vocações primitivas da Serra

É provável que haja várias formas para o uso das vocações primitivas ou originais da Serra do Gandarela. Algumas formas irão mantê-las e garantirão a sustentabilidade de seus ecossistemas constituintes, favorecendo a uma população hoje próxima dos seis milhões de habitantes nos municípios e regiões metropolitanas acima arroladas. Sendo assim, há maneiras de garantir a qualidade ambiental dos ecossistemas do Gandarela e, ao mesmo tempo, gerar trabalho, renda e riqueza para a população.

Outras, por força de interesses individuais que desejam explorá-las através da aplicação de capital e trabalho, garantirão um fluxo de caixa positivo e rentável para suas empresas, sejam elas privadas ou públicas, nacionais ou estrangeiras. O que restar das vocações primitivas da Serra do Gandarela será tornado um “Quadrilátero Degradado de Passivo Ambiental”, decerto financiado por bancos públicos a fundo perdido.

Proposta

Óbvio que a criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela é medida urgente a ser realizada. Sobretudo, pelo fato de que o ICMBio já atestou seu interesse nesse parque. A nosso ver, ficaria ainda melhor se fosse criada uma Reserva Nacional da Serra da Gandarela, dados seus atributos exclusivos.

Além disso, na década de 1990, o Ibama possuía uma posição definida sobre as Unidades de Conservação Ambiental. Desejava que fossem econômica e financeiramente autônomas. Para tanto, naquela oportunidade, fez uma licitação visando a definir os investimentos adequados para implantar equipamentos destinados ao turismo controlado e modelar a viabilidade econômico-financeira de dez Unidades de Conservação. Houve uma empresa consultora que venceu a licitação, mas não temos ideia se este projeto foi adiante.

Outro aspecto a ser considerado refere-se ao licenciamento ambiental para exploração de cavas de minério de ferro. Não temos certeza absoluta, mas, parece que a exploração de riquezas do subsolo brasileiro são legalmente licenciadas somente pelo Ibama e não por órgãos ambientais estaduais.

Fontes de Referência:


[1] Cangas ferruginosas são capas geológicas normalmente situadas sobre as jazidas de ferro. Elas podem ser subterrâneas ou possuírem afloramentos, como ocorre em diversas áreas do chamado “Quadrilátero Ferrífero” de Minas Gerais.

Royal Military Tattoo, em 2011


Há muito anos, quando Cole Porter veio ao Rio de Janeiro, assistiu do palanque o desfile de 7 de Setembro. Ao ver a Banda Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais, puxou o Ary Barroso pela manga do paletó e perguntou sério:

— O que é isso? Eles não seguem a cadência do bumbo como todos os militares do mundo? Eles pisam num ponto surdo entre as batidas! E eles balançam para os lados como se estivessem dançando!…

E Ary Barroso respondeu-lhe calmamente:

— É porque é uma banda de mulatos, onde todos “tocam de ouvido” e nunca marcham. Eles desfilam, o que é muito diferente. Esse balanço chama-se “ginga”, mas eu não vou tentar lhe explicar porque você nunca entenderia…

A banda marcial não tem instrumentos musicais convencionais, mas apenas clarins, cornetas, pífaros e gaitas de foles, além da ala chamada “pancadaria”. Há soldados com “samba no pé”, há bailarinas e dançarinas, meio a uma excepcional apresentação no “Royal Military Tattoo 2011“, realizado na  Escócia.

Banda de Fuzileiros Navais

Banda de Fuzileiros Navais

Clique no link Banda Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais para assistir sua apresentação no maior festival de bandas militares do mundo. Simplesmente um show de alegria e inusitada cadência, tocando foles escoceses e ao som de músicas de Ary Barroso e outros.

Zoológico de políticos


Foi criado o Comitê Analítico de Projetos de Investimento, conhecido pela sigla CAPIN, formado por cem doutores em diversas áreas do conhecimento. Objetivo: analisar e discutir projetos de investimentos precisos e rentáveis, selecionando apenas um.

Assim, durante doze meses de trabalho insano e ininterrupto (15 horas por dia), foram analisados quase duzentos projetos e seus planos de negócio. Foi estafante, projetos bem detalhados, com mais de trezentas páginas, cada um.

Os proponentes apresentaram tudo o que fora solicitado:

  • Descrição e finalidade do projeto;
  • Detalhamento do produto/serviço;
  • Mercado potencial;
  • Cronograma de execução;
  • Projetos concorrentes já disponíveis no mercado brasileiro e internacional;
  • Estratégia comercial e de marketing;
  • Análise de risco econômico-financeiro; e
  • Fluxo de caixa projetado para 20 anos, com taxa interna de retorno estimada de cinco em cinco anos.

Inúmeras propostas atenderam aos critérios de seleção estabelecidos pelo CAPIN. Ficou muito difícil compará-los para proceder a escolha final. Contudo, o resultado acabou acontecendo. Restaram para discussão apenas duas iniciativas de elevada criatividade e sem concorrentes no mercado mundial. Foram elas:

  • O Projeto de Transmissão de Energia Elétrica Sem Cabo – TEESC; e
  • O Projeto de Zoológico de Políticos – ZOOPO.

Como não era possível implantar dois projetos ao mesmo tempo, pois não havia capital suficiente para isso, mesmo que a contragosto dos membros do CAPIN, um projeto precioso teve que ser esquecido ou postergado para outra oportunidade.

O TEESC tinha por finalidade acabar com as linhas de transmissão de energia em qualquer país. Sua proposta era realizar uma espécie de transmissão de energia Wi-Fi. Mas, apesar dessa proposta gerar economias de muitos bilhões de dólares por ano, dadas as dimensões do território brasileiro, por exemplo, os membros do CAPIN não acreditaram que o ministério responsável viesse a adotar essa tecnologia. Mas, de qualquer forma, solicitou à equipe proponente que a testasse para carregar baterias de celulares, tablets e notebooks.

Já o ZOOPO é de simples execução para os padrões brasileiros, considerando zoológicos com visitação pública. Na verdade, só mudam os animais de interesse dos visitantes, bem como geram trabalho e renda honesta para veterinários e tratadores.

Entretanto, o que mais chamou a atenção ao CAPIN foi a estratégia comercial adotada pelo ZOOPO. Ela é capaz de mobilizar instantaneamente toda a imprensa mundial e tornar-se motivo de divulgação permanente, com notícias, entrevistas e documentários em todos os periódicos e televisões do planeta.

Será o primeiro “zoológico sustentável” do mundo, com espécimes de rara sensibilidade e aguda visão para afanar o erário público. Claro que são espécies carnívoras e predadoras, mas a muralha elevada e seus patamares externos envidraçados propiciam a observação segura dos visitantes e impedem qualquer tentativa de “escape”.

Ambientes refrigerados e seguros

Ambientes de observação, refrigerados e seguros

Serão escavados grandes ambientes circulares (com 1.000 m2, em média), profundos e abertos, sem grades de aço, de forma a permitir que os espécimes não fiquem enjaulados e façam exercícios diários ao ar livre, subam em árvores, escalem pedras centrais esculpidas com perfeição ou realizem caminhadas matinais. Segundo os projetistas do ZOOPO, cada unidade é capaz de receber até mil espécimes, condenados por crimes diferenciados.

O público poderá assisti-los sem risco e a preços acessíveis (R$ 2,00), durante 24 horas por dia. Haverá uma praça de alimentação para os visitantes, mas é proibido jogar restos de comida para os espécimes visitados, assim como dirigir-lhes a palavra. A alma do ZOOPO é o absoluto silêncio.

Várias áreas florestadas e floridas serão disponibilizadas entre os pontos de observação dos espécimes. O público poderá admirar a vegetação típica, maravilhosas florações e animais silvestres que nelas convivem, com destaque para aves, borboletas e insetos polinizadores que enriquecem a natureza.

Jardins para os visitantes

Jardins para os visitantes

Farão parte permanente da equipe do ZOOPO veterinários para atender prontamente aos espécimes condenados, tratadores para distribuição de alimentos gratuitos aos mesmos e forte policiamento adestrado, visando a impedir qualquer desvio de comportamento, todos previstos nos estatutos desta iniciativa privada.

Às vezes paradoxos são venerados


Ricardo Kohn, Escritor.

Embora uma das definições de “Paradoxo” seja “declaração ou proposição que parece se autocontradizer, mas que, na realidade, expressa uma verdade possível”, optou-se por aceitar a seguinte, como mais definitiva: “proposição falsa ou autocontraditória”.

A primeira é dúbia, pois fala em “verdade possível”. Contudo, nem tudo o que é verossímil é verdadeiro e paradoxos não são questões de verdade ou mentira. São melhor definidos como contradições, incoerências. Em suma, paradoxos são contrassensos, disparates ou até absurdos.

Um exemplo de paradoxo é o arranha-céu que está a quase dez anos sendo construído em Nova York, no espaço deixado pelas Torres Gêmeas demolidas. Não se deve avalia-lo apenas pelas demonstrações de inteligência e pioneirismo que a engenharia norte-americana dá ao mundo. É um gigante de ostentação em vários sentidos. Sua estrutura metálica é revestida por um “colete de concreto” mais resistente do que o utilizado em usinas nucleares. Dizem ser uma torre à prova de choque com qualquer avião existente no mundo, bem como capaz de enfrentar ilesa a fúria de tornados e vendavais. Por isso, este prédio já está sendo venerado como uma obra ímpar, demonstração do domínio tecnológico e do poder daquele país.

Torre da Liberdade

Vista do futuro da Torre da Liberdade

A altura da chamada Torre da Liberdade (Freedom Tower), com seus 104 andares, é de cerca de 540 metros, quase 200 metros mais alta do que o Empire State. Sem considerar as “provocações” de que se reveste essa construção (que decerto não é à prova de mísseis balísticos), há outros aspectos que, para muitas pessoas, são paradoxais.

O primeiro é a manutenção permanente da dor pela perda da vida de tantas pessoas em atos terroristas, sem considerar que no entorno desse palco há vizinhos que não são obrigados a aceitar essa iniciativa de dor permanente, que se tornou uma espécie de “imposição patriótica”.

Embora tenham sido investidores privados os responsáveis pela obra, com uma economia que já se anunciava como “bem mal das pernas” desde o governo de Bush Filho, o retorno monetário dos bilhões de dólares já injetados na construção deverá ser lento.

Por fim, há a questão ambiental envolvida na construção e que se resume em uma única pergunta:

─ Sem considerar a sua futura manutenção, quantos milhões de toneladas de ferro, soldas, cimento, areia e outros materiais de acabamento foram retirados do ambiente para erguer esta torre e as demais?

Por outro lado, também têm-se vários “paradoxos brasileiros“. O mais recente está a acontecer na cidade do Rio de Janeiro. Desde julho de 2012 acusamos, em um dos cinco artigos-denúncia sobre os problemas do BRT Transoeste, os buracos na sua pista exclusiva que já começavam a surgir. Para confirmar basta clicar em Rombo da pista do BRT Transoeste.

Hoje alguns jornais noticiam que há vários buracos na pista do BRT e seus veículos são obrigados a trafegar pelas faixas dos automóveis, na altura de Guaratiba. Considerando que a pista exclusiva foi inaugurada há apenas seis meses, é um absurdo que este meio de mobilidade urbana, implantado para melhorar as condições de trânsito no Eixo Santa Cruz-Barra da Tijuca, passe justamente a prejudica-lo.

Os buracos na pista do BRT

Os buracos na pista do BRT

Analisando a foto dos mais jovens buracos (reprodução de O Globo), parece que a camada de asfalto da pista do BRT foi aplicada diretamente sobre o sob, sem as camadas de base e sub-base, que dão maior resistência e durabilidade ao pavimento. Dizer que a destruição do asfalto se deu em função das fortes chuvas de dois dias na semana é uma brincadeira. Todas as estradas, vias e pistas que se prezam possuem sistemas de drenagem de águas pluviais.

Para seus primeiros seis meses em operação, o relatório de desempenho ambiental deste “paradoxo” de mobilidade urbana é simples:

─ “Várias colisões e atropelamentos. Cinco pessoas mortas e algumas feridas. Choque entre dois veículos do próprio BRT. Trechos com pavimentação destruída. Trechos da ciclovia sendo quebrados ou dissolvidos. Ocupação ilegal no corredor de passagem do BRT. Tudo isso em apenas seis meses. Formidável!”.

As enchentes no Rio são antigas


Baseado em artigo de Lise Sedrez [California State University].

Aconteceu em janeiro de 1966 o pior evento ambiental do século XX, que paralisou a cidade do Rio. Ela mergulhou sob cerca de 250 mm de chuva, em menos de 12 horas. Isso é um volume elevadíssimo de água, 250 litros empilhados sobre cada metro quadrado do solo da cidade, em doze horas torrenciais.

Deslizamentos de solos e rochas erráticas nos morros causaram mais de 140 vítimas fatais. Os cariocas enfrentaram racionamento de gás, energia e água, esta última contaminada por esgotos que romperam os dutos coletores e transbordaram nos sistemas de drenagem de águas pluviais. As principais vias de transporte da cidade foram literalmente inundadas.

Ônibus navegando na Rua Jardim Botânico

Ônibus a navegar na Rua Jardim Botânico

As chuvas de 1966 evidenciaram o conflito entre políticas locais e nacionais. O governo da cidade do Rio de Janeiro, então Estado da Guanabara, era o símbolo nacional de resistência contra a ditadura militar, mas também era o alvo mais provável das críticas da sociedade brasileira. As enchentes foram um alerta vermelho acerca da vulnerabilidade do Rio para as chuvas de verão, especialmente para as classes mais carentes dos seus então quatro milhões de habitantes. Seja nas favelas, engavetadas nos taludes dos morros, ou distribuídas pelas planícies marginais da Baía de Guanabara, os mais pobres do Rio sempre foram as vítimas das chuvas de verão.

No Estado da Guanabara, a água sempre foi problema crítico para seus gestores, tanto na escassez, quanto no excesso. Sua escassez crônica somente foi resolvida em meados da década de 60, no governo de Carlos Werneck de Lacerda, com a implantação da captação do rio Guandu e cerca 750 quilômetros de rede de distribuição de água na Guanabara.

Mas, foram as secas no século XIX que convenceram D. Pedro II da urgência de proteger os mananciais do maciço da Tijuca, coberto por fazendas de café – e daí surgiu o projeto de reflorestamento da Floresta da Tijuca. Mas secas, que se duram semanas antes de serem percebidas claramente como ameaças, carecem das chuvas de verão, que são certezas previstas e tudo arrastam em poucas horas.

Muitos cidadãos testemunharam vários destes momentos dramáticos de enchentes desde o século XVI. Sejam como “cabeças d’água” – rios que transbordavam fora de seu leito menor – ou as ameaçadoras combinações de ressacas e marés altas. As chuvas mais intensas faziam com que pântanos e lagoas retomassem a parte baixa da cidade mal ocupada, espaço “conquistado” com demorados e custosos aterros. Normalmente, estúpidos aterros, como os da região portuária do Rio.

A partir da década de 1860, a combinação de chuvas e epidemias de zoonoses nos verões cariocas tornou a cidade indesejável para a sociedade, que, quando podia, fugia ou para a região onde é hoje o bairro de Santa Teresa (então Morro do Desterro) ou corria para a serra de Petrópolis, caso as estradas não estivessem intransitáveis.

Se chuvas intensas são eventos ambientais naturais e fortuitos, seus resultados podem ser fenômenos sociais adversos. A partir do século XX, o impacto das enchentes se torna mais evidente no cotidiano da cidade. A cidade moderna, feita de ilhas de concreto e asfalto, absorve menos águas pluviais do que áreas com solos expostos, manguezais e as florestas que a precederam. E se chuvas normais já saturam as galerias de drenagem pluvial, chuvas excepcionais são sinais óbvios de desastres humanos.

A população vivia ansiosa ao início de cada ano, temendo as águas de janeiro, fevereiro ou março. De fato, chuvas intensas ocorriam a cada cinco ou dez anos, de 1906 a 1962. Os pontos críticos de drenagem eram sempre os mesmos, os deslizamentos eram comuns, com eventuais perdas de vidas humanas. Normalmente, os primeiros 30 minutos de uma tempestade eram decisivos para distinguir um simples temporal de um verdadeiro desastre urbano. Chuvas menos intensas, mas contínuas e além da capacidade de absorção do solo construído, chegavam a ter efeitos similares.

Finalmente, em janeiro de 1966, uma tempestade violenta arrasou a cidade. As chuvas fortes e letais continuaram por mais uma semana e provocaram o colapso total do sistema de transporte, assim como um “apagão” elétrico quase completo. Como se não bastasse, no ano seguinte houve novas chuvas, em janeiro e fevereiro de 1967, igualmente excepcionais em dimensões. Causaram mais de 100 mortes no Rio e traumatizaram a Guanabara.

A história das enchentes no Rio de Janeiro obviamente não se interrompe com esses eventos. Fortes enchentes na década de 70 ocorreram em intervalos menores, e os deslizamentos e alagamentos de ruas lembravam a população das enchentes de 66 e 67. Em 1981, o Rio recebeu em um único dia de verão 15% da precipitação média anual, resultando o completo caos da cidade.

Chuvas fortes de verão é a regra e não a exceção no Rio de Janeiro. Então, por que analisar as consequências das chuvas de 1966/67? Porque, embora as chuvas das décadas posteriores não tenham sido tão intensas, suas consequências sobre a cidade mais urbanizada foram tornando-se cada vez mais críticas.

As enchentes na Baía de Guanabara costumam atingir três espaços ambientalmente vulneráveis:

  • As planícies da Baixada Fluminense, com um sistema de drenagem precário em uma área originalmente pantanosa;
  • Os aterros próximos à Baía com grandes favelas, em palafitas ou não; e
  • As favelas dos morros desmatados, frequentemente localizadas próximas a bairros de classes mais abastadas.

Deslizamentos de solos e rochas nos morros com favelas, na espremida geomorfologia do Rio de Janeiro, também atingiam outros bairros fora de áreas de risco geológico. De certa maneira, Rio é uma cidade segregada. Mas é um tipo de segregação em que os mais pobres moram nos morros e subúrbios, enquanto os mais opulentos ocupam as áreas de baixios. É o inverso das metrópoles de países desenvolvidos, onde os mais abastados residem exatamente em áreas suburbanas.

Ainda que socialmente distantes, praias e morros estão geograficamente próximos. Então, desabamentos nos morros significam que esta segregação precária, mas de fato é realizada, pois as condições habitacionais dos munícipes mais carentes afetam as áreas mais ricas. Em meados da década de 60, tendo a cidade cerca de 4 milhões de habitantes, onde aproximadamente 600 mil viviam em favelas, esta era a preocupação real da gestão pública.

Essa ruptura das barreiras sociais ocorreu literalmente em 1966, quando um deslizamento de terra, arrastando solo e pedras de um morro, demoliu um prédio no bairro de Laranjeiras com muitas vítimas fatais. Como a educação não era acessível a todos os cidadãos (e ainda não é), seguiram-se saques, racionamentos, colapso dos serviços de emergência, que lembraram aos cariocas que a chuva era apenas um de seus grandes problemas.

Imagem de um deslizamento em 1966 – Rua Cristóvão Barcelos, Laranjeiras

Imagem de deslizamento em 1966 – Rua Cristóvão Barcelos, Laranjeiras

Na verdade, as chuvas também inundavam o solo fértil das normais lutas políticas. O recém-eleito, pelo voto direto, governador Negrão de Lima (1965-1970) era opositor ao regime militar. Seu antecessor no governo da Guanabara, o jornalista Carlos Lacerda, também o era, mas como tinha receptividade da imprensa, muitos acreditavam que houvera influído nos debates sobre o ônus político das chuvas de 1966. Embora chuvas não pudessem ser atribuídas a qualquer governador (chuvas, mesmo as torrenciais, são espasmos naturais do ambiente), quando elas se repetem em 1967, ainda que com expressão menor, periódicos (como o Jornal do Brasil) usaram-nas para acusar Negrão de Lima de negligência.

Nossa opinião

O governador Carlos Lacerda (1960-1965) fez, dentre inúmeras outras obras públicas, toda a estrutura do saneamento básico (águas, esgotos e drenagem pluvial) que o Estado da Guanabara precisava há muito, deixando-a funcionando até pelo menos o ano 2000. Negrão de Lima, embora seu opositor, optou em seu mandato por concluir as poucas obras que Lacerda deixara inacabadas. Mesmo que já vivêssemos sob o jugo de ditaduras militares, eram os bons tempos em que situação e oposição eram capazes de se conciliar pela realização de bens e equipamentos urbanos.

As chuvas torrenciais, que sempre desabaram sobre o Rio, somente se tornaram notícia a partir de janeiro de 2011, com seus impactos devastadores sobre diversos municípios da sua região serrana. Vários fatores deste poderoso evento ambiental podem ser analisados, mas sempre restará uma pergunta que consideramos básica:

─ “E se essa mesma tromba d’água caísse sobre o centro da cidade do Rio, como aconteceu em 1966?”.

De acordo com o censo de 2010 (IBGE), a população do estado era de 15.993.583 de habitantes. Mas cerca de 1.400.000 de seus cidadãos habitam favelas e áreas de elevado risco de deslizamentos e desmoronamentos de encostas. Trata-se da maior população em favelas do Brasil.

Os governos estadual e municipal ainda não entenderam que todas essas famílias precisam ser reassentadas em condições dignas, ao invés de serem estimuladas pela omissão de seus governantes a ampliar ocupações desordenadas e humanamente  indesejáveis.

Mas, ao contrário, as prioridades governamentais são Carnavais, Copas de Futebol e Jogos Olímpicos. Esses eventos, de interesse relativo, acarretam a importação de mão-de-obra para a construção civil, no estado e na cidade. Mais concreto armado e pavimentos serão deitados na urbi até 2016. Findas todas as obras, caso nenhuma medida eficiente seja realizada para a erradicação de favelas, com a melhoria efetiva da qualidade de vida dessas famílias, teremos um Rio sobrecarregado, saturado, incapaz de oferecer condições de trabalho, saúde e educação ao seu novo contingente humano. Errar é humano, persistir no erro é urbano.

Em nosso entender, dadas as vocações consagradas do Rio, sua gestão pública precisa ser realizada a partir de um Plano de Sustentabilidade Ambiental de seu território, que considere sua estreita faixa de terras, localizadas entre a serra e o mar, bem como suas formidáveis manchas de vegetação secundária, expressas nos maciços da Tijuca e da Pedra Branca.

O cometa Elenin foi destruído


Ricardo Kohn, Gestor do Ambiente.

Em geral, os cometas são compostos por gelo, rochas, poeira e elementos orgânicos. Porém, mesmo com grandes dimensões, constituem estruturas frágeis que se desmembram com facilidade, diante das inescrutáveis forças do universo.

O cometa Elenin, um corpo celeste com dimensões estimadas entre 3 e 5 km de diâmetro, foi descoberto em dezembro de 2010 pelo russo Leonid Elenin, um observador interessado nos céus da galáxia.

Elenin, o sensacionalista

Dramatização – Elenin, o sensacionalista

Desde então, por força dos “simpatizantes do apocalipse total da Terra”, o Elenin passou a ser o centro de uma série de novas hipóteses tresloucadas sobre o fim do mundo. Não bastasse a pataquada dos crentes nas profecias Maias, que transtornaram suas vidas pela “certeza do fim do mundo”, em dezembro de 2012.

Para acalmar os ânimos desses crentes apocalípticos, a NASA divulgou informação esclarecendo que o corpo celeste não irá afetar a Terra, seja chocando-se com o planeta, seja “tapando o Sol com a peneira”. Isso se deve ao fato de que no dia 16 de outubro de 2011, quanto alcançou sua proximidade máxima com o planeta, o Elenin estava muito distante – a cerca de 35 milhões de quilômetros da Terra. Em outras palavras, a uma distância 90 vezes maior do que a distância entre a Terra e a Lua. Disse ainda a NASA que o Elenin foi torrado por sua aproximação com o Sol.

Pessoas que gostam de emoções fortes e extravagantes, falam das “naves extraterrestres escondidas atrás do Elenin, com a intenção de invadir a Terra e extinguir sua população”. Pois bem, acaso existissem, viraram cinzas. O interessante é que essas notícias estão sendo veiculadas em redes sociais neste início de 2013, um ano e meio após o cometa haver sido torrado e destruído.

O Elenin partiu-se em pedaços pulverizados, que deverão seguir a trilha original do cometa, mas não cruzarão com a Terra antes dos próximos 12 milênios. Devemos ficar calmos, pois nessa ocasião, provavelmente, todos nós já estaremos aposentados.

Afinal, como andam os Guarani Kaiowás?


Esse povo indígena, que se autodenominava de Paí-Tavyterã, constitui um dos povos da etnia Guarani que sobrevive na América do Sul. Guarani Kaiowá ou apenas Caiouá (no Brasil) são alguns dos inúmeros apelidos usados pelo “homem branco” (os espanhóis e em seguida os portugueses), desde quando iniciava a exploração das terras do pantanal paraguaio, em busca de possíveis riquezas naturais apropriáveis, a serem embarcadas para suas “santas terrinhas” de origem.

Cultura

Sua autodenominação possui cunho religioso e talvez político, na visão atual. Paí é “o título com que deuses e habitantes do paraíso se saúdam”. Tavyterã, por sua vez, são “os futuros habitantes do centro da Terra”.

Decerto, há muito mais cultura envolvida para explicar as conexões entre essas palavras. Talvez Paí fosse uma classe social superior e Tavyterã uma “representação política” das classes trabalhadoras. Cabem aos antropólogos detalharem melhores hipóteses para essas relações.

Xamã Paí-Tavyterã

Xamã Paí-Tavyterã

Localização

Há indícios concretos que, hoje, suas aldeias remanescentes encontram-se localizadas em uma porção do pantanal paraguaio, em áreas ao norte da Argentina, ao sul da Bolívia e em pequenas parcelas territoriais do Mato Grosso do Sul, no Brasil. Não se tem conhecimento atualizado de suas populações dispersas nesses quatro países.

O conflito brasileiro

Os Paí-Tavyterãs (hoje, no Brasil, Guarani Kaiowá ou Caiouá) não fizeram qualquer contato relevante com exploradores europeus e seus descendentes, até fins do século XIX. Porém, durante o século XX, pelo menos no Brasil, teve início o processo de tomada de suas terras no estado do Mato Grosso do Sul. Grandes fazendeiros e empresas de mineração começaram a expulsar várias aldeias Caiouás do território deste estado, a que chamam, curiosamente, de “nossa terra”.

Mas, é neste século XXI que o conflito vem crescendo de forma ameaçadora e violenta para as aldeias Caiouás. Fazendeiros contratam jagunços e criam suas próprias forças armadas para expulsarem de maneira definitiva todos os Caiouás que, segundo dizem, “ocupam suas terras”.

A resposta dos indígenas, donos históricos da terra, através de seu líder, o índio Eleseo Lopes, foi a de que permanecerão cativos na pequena área ocupada por uma comunidade que conta com 170 indígenas e que “resistirão até sua morte coletiva”.

Eleseo Lopes, líder dos Caiouás - Foto de Elza Fiuza

Eleseo Lopes, líder dos Caiouás – Foto de Elza Fiuza

Diante da ameaça de expulsão desta comunidade, sua liderança pediu ao governo para que fosse enterrada ali mesmo, junta a seus antepassados: “Solicitamos decretar a nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui”.

A politização do conflito

A mídia mais séria fez legítimas denúncias sobre a violência cometida contra os Caiouás, várias delas muito bem documentadas. Era essencial chamar a atenção da Fundação Nacional do Índio (Funai), dos governos, das autoridades policiais e de diversos níveis da justiça brasileira, visando a conter o quadro que se agravava diariamente.

No entanto, o governo do estado optou por politizar e judicializar o impasse. Não é capaz de perceber que indígenas não querem ser indenizados?! O Caiouás desejam apenas habitar e produzir em suas terras.

Como de praxe, o governo federal permanece em silêncio nas questões de litígios com o agronegócio e a bancada ruralista do Congresso. Bastaria que as terras da população de Caiouás fossem demarcadas, no mínimo na mesma medida de hectares/cabeça de gado, como ocorre no Mato Grosso do Sul.

Vendo essa enxurrada de ameaças e litígios intensionais, muitos usuários das redes sociais mudaram seus nomes de família. Todos passaram a pertencer à família Guarani Kaiowá. Vem sendo feita uma grande pressão moral a favor dos indígenas, que cruza diariamente o país e o planeta. O conflito acabou sendo internacionalizado, mas para os Caiouás nada mudou até agora.

Infelizmente não cremos que a estratégia adotada surtirá qualquer efeito palpável para os Guarani Kaiowás. No máximo, conseguirá cansar os leitores das redes, que apoiam as pressões e reclamam, mas à distância, não sentindo na própria carne a agressão secular que sofrem os indígenas brasileiros, onde quer que se localizem.

Congresso sobre Ciências do Mar


Atenção oceanógrafos e cientistas marinhos

O XV Congreso Latinoamericano de Ciencias del Mar acontecerá em Punta del Este, Uruguai, de 21 a 31 de outubro de 2013.

As inscrições estarão abertas até 20 de janeiro de 2013.

Clique em COLACMAR e obtenha mais informações.

Local do evento

Local do evento

O estado do Mundo


Létat du monde résumé en une photo

Recebemos por e-mail uma única foto que sintetiza, na opinião de seu autor francês, como a Humanidade encontra-se desfigurada e totalmente dominada por políticos corruptos e criminosos, além de ditadores violentos e assassinos.

Como eles pensam

As sociedades “que se danem“: comam menos, vejam bem menos, ensurdeçam-se totalmente e, sobretudo, permaneçam caladas e tementes aos safados deuses políticos do momento.

 L'état du monde résumé en une photo

“L’état du monde résumé en une photo”

Desculpem a qualidade da foto. Era muito pequena e fomos obrigados a ampliá-la um pouco.

PS.: Fiquem a vontade, podem trocar a expressão “que se danem” por outra mais clara e contundente. Se o texto fosse de Millor Fernandes, ele teria escrito “as sociedades que se fodam“.

As variadas felicitações de fim do ano


Com o advento da internet acabaram-se cartas e telegramas para desejar felicidades de fim de ano. Antes, havia cartões específicos que podiam ser adquiridos em vários lugares, até em bancas de jornal. Simplesmente sumiram de circulação. Com a internet, as felicitações entre pessoas e famílias tornaram-se ações praticadas através do e-mail particular.

Após cerca de quinze anos, assistiu-se à invenção das Redes Sociais. De início, poucos sabiam como usa-las. Nós optamos por tatear seus possíveis modos de operação, porque quase ninguém tem paciência de ler e entender os “textos de Ajuda”. A ser assim, começamos a responder às três perguntas que uma delas traz até hoje. Constam das caixas para entrada de texto, foto e vídeo, com as seguintes questões:

─ “Como está se sentido, Maria Magnólia?” É assim, seu nome está no banco de dados e aparece na tela. Outra pergunta.

─ “O que você está fazendo?” Curioso demais, em especial se Maria Magnólia responder.

Porém, achamos que a mais interessante é a ordem rede: ─ “Escreva alguma coisa”. Objetiva, não acham?

Pensem como Dona Maria Magnólia Mendes Morícia, em estado de exceção intestinal, responderia às três sutis indagações. Por sua idade, educação refinada e objetividade lusitana, talvez respondesse assim:

─ “Estou com muita dor de barriga”. “Tomando remédios e indo ao banheiro sem parar”.“Não tenho mais nada a escrever, não me encha!”.

Por outro lado, é fácil imaginar como responderia seu marido às mesmas provocações da rede. O Delegado Mauro Mendes Morícia, decerto trocando as palavras de Dona Maria, diria a mesma coisa. Evitamos concluir as respostas do delegado. Deixamos por conta do leitor.

Delegado Morícia, o Suave

Delegado Morícia, o Suave

Neste fim de ano a variedade de trocas de felicitações em redes sociais foi fabulosa. Milhares de felicitações ainda continuam a ser postadas após a passagem do ano. E duas datas ocidentais marcam as festividades que, para muitos, clamam por desejos universais:

  • O dia de Natal, a comemorar o nascimento de Jesus Cristo, há 2018 anos, com festa de cunho religioso e cristão, que aos poucos se tornou uma homenagem mercantilista; e
  • O Dia de Jano ou Dia do Ano-Novo, decretado por Júlio César, há 2058 anos. Ele foi o último ditador romano nomeado para o cargo. Desde então, em todo 1º de janeiro acontece a festa pagã, que carrega uma atmosfera mais livre, digamos assim.

Por serem duas festas sucessivas, com apenas sete dias de intervalo e significados opostos, encontramos na rede algumas felicitações genéricas: Boas Festas!, que não misturam religiosidade com paganismo.

Encontramos poucas vezes qualquer menção a Feliz Natal e nenhuma à capacidade de purificação cristã da Missa do Galo. Contudo, a fúria pagã de prosperidade no Ano-Novo dominou a cena, com uma variedade enorme de formas e escritas.

Houve “amigos genéricos e indecisos” que postaram várias felicitações e que iam crescendo à medida em que arriscavam mais desejos: “Paz e prosperidade”; “Amor, paz e sucesso”; “Um ano de maravilhas em 2019”; “Saúde, sucesso, amor, paz e prosperidade”.

Aconteceram “amigos cozinheiros”, que apresentaram longas receitas com as porções de qualidades pessoais que o indivíduo deve possuir para ter um ano feliz: “Compreensão, aceitação, transigência, perseverança, espiritualidade, bom humor, amor ao próximo, paciência, coragem, esperança, lealdade, humanidade”. E mais, “junte todas essas porções e cozinhe num caldeirão cheio de alegria. Depois enfeite o prato com seu sorriso”. Parece receita de “despacho de macumba”.

Por fim, encontramos “amigos distraídos”, que parecem haver esquecido que estavam postando felicitações em uma rede social. Foram tão específicos em seus carinhos que, dentre os milhões de indivíduos que trafegam na rede, somente os poucos citados na mensagem são capazes de entender os desejos do felicitador:

─ “Ei, gente! Estou longe mas não me esqueci de vocês. Beijos na Glória e no Olavinho; que ele tenha sucesso no novo emprego! Tô com saudades da Eulália, dá um beijo nela, ela vai conseguir se casar em 2019. Um forte abraço pro vovô Filó. Beijos no coração e Feliz 2019 para todos vocês”!

Destacamos que todos os desejos e felicitações são importantes, pois aproximam as pessoas, conhecidas ou não. Isso é o melhor da Humanidade. Diferente de queimar fogos de artifício em praias, onde são deitadas centenas de toneladas de lixo por 15 minutos de excesso de alegria manipulada.