Vai Joaquim, nunca pare…


Siga, siga em frente pelo rumo que escolheu. Sei que o caminho até aqui foi árduo e difícil, mas… Mas, e daí?! Chegou mais longe do que previra na juventude. Decerto, foi além de suas próprias expectativas. E é por isso que deve continuar Joaquim e, se necessário, não se freie, arremeta com lucidez.

Nós nunca fomos apresentados. Nossa relação profissional provém da década de 1980 e resumiu-se a acenos de cabeça quando nos cruzávamos pelos corredores do Serpro-sede. Você era advogado da empresa e eu era de coordenador de informação. Mas, além disso, eu era muito amigo de um conhecido seu, o saudoso Dr. Menna Barreto. Creio que vocês ocupavam a mesma sala, junto com o mais velho, Dr. Abdon. Baixo, meio gorducho, portando uma ampla careca, que parecia sempre lustrada com escova de sapato.

Deve ter sido uma escalada difícil para você graduar-se em direito. Saiu do interior de Minas, onde estudou num Grupo Escolar, passou por escola pública do segundo grau, até chegar à universidade em Brasília. Sequer vou me perder a detalhar suas pós-graduações, obtidas no Brasil e na França.

Então, caro Joaquim, se conseguiu chegar até aqui, siga em frente, pois ainda há muitas montanhas a subir. Porém, não se esqueça: leve consigo toda a sua bagagem e ferramentas, com pesados fardos de acertos. Mas, sobretudo, carregue junto os enganos cometidos. Todos erramos, contudo, poucos são aqueles que equilibram suas passadas sobre as pedras irregulares e cortantes dos enganos. Os que conseguem, quando olham para trás, veem que o terreno ultrapassado, de forma misteriosa, tornou-se plano, reto e indobrável. Afinal, tem sido assim com todas as rochas amargas que você tem escalado: planificaram-se em retas e não se tornaram flácidas.

Certa vez, tomando café após o almoço com Dr. Menna, ele me disse em tom mineiro e provocativo: “Menino, crie espaços; você precisa ter seu próprio espaço”. Abraçou-me fraterno e, em silêncio, retornou à sala de trabalho. Fiquei absorto no corredor, quase aprisionado às ripas do chão. Refletia sobre o sentido das palavras que recebera. Pois, creia Joaquim, investi quase uma década para entende-las corretamente, se é que as entendi. De toda forma, são-me muito úteis, pois até hoje tento construir meu espaço próprio.

Seu atual cenário de vida parece-me similar. Difere do meu pelo fato de você ter abdicado, de forma espontânea, do espaço que construiu ao longo dos anos. Mas, exatamente por isso, precisará construir seu novo espaço próprio. Você não é homem que se submeta a “espaços alugados”, a ultrajar os próprios princípios profissionais, receber ordens de condomínios de crápulas. Você é tão-somente um homem comum, cumpridor de deveres e obrigações de um cargo público. Embora isso seja uma raridade no Brasil de hoje, não há qualquer heroísmo nisso. Apenas cumpriu com seu dever: defendeu e aplicou o que está escrito na lei à abjeta realidade política brasileira.

Cutucar vespeiros de quadrilhas de corruptos políticos é uma rara ousadia que, através dos séculos, se conta nos dedos da mão. E você sabia que de suas ações derivariam inimigos figadais, tanto por parte de defensores dos criminosos, quanto por alguns de seus pares. Por isso, devo comentar acerca de alguns de seus ex-pares, sem personaliza-los. Trato-os como moedas sem face ou sem valor, como preferir. Sou cego como a justiça deve ser.

Sua presença naquele sistema seguiu as normas estabelecidas. Todos galgam funções por imposição de regras predefinidas, tal como aconteceu com você e sucederá com os demais. Se para sua pessoa foi sorte ou azar, confesso que não tenho interesse em saber, trata-se de um problema seu, particular. Mas para a sociedade brasileira foi Sorte. Explico.

A Sorte Social a que me refiro é o legado que você, Joaquim, deixa para a Nação e seu futuro. Sei que suas atitudes não serão obrigatoriamente seguidas por todos seus sucessores. Por sinal, alguns de seus ex-pares, sob as ordens do condomínio de crápulas, atuarão no sentido de apagar sumariamente do mapa seus relatórios documentados. E ainda receberão o prestimoso auxílio da mídia paga com o dinheiro do povo. Porém, Joaquim, fatos são inapagáveis e serão relatados através dos tempos. Por isso deixo esse documento aqui registrado.

De qualquer modo, mesmo que Ali-Babá ainda permaneça impune e cada vez mentindo mais, ainda que a bancada da Papuda esteja a comemorar sua saída, você finalizou a missão pública com louvor, Summa cum Laudae!

O personagem Joaquim deve ser arquivado, junto com o espaço que lhe fora próprio. Ouso dizer, provocando a fala de Menna Barreto, que Joaquim, o homem comum, precisa reviver por algum tempo em espaços mais saudáveis. Mais tarde, poderá pensar com calma se deseja correr novos riscos.

Esse pode ser você, prezado Joaquim

Joaquim, esse pode ser sempre você