Martírio naval: o ocaso da Petrobras


Ricardo Kohn, Consultor em Gestão.

Sem dúvida, nada entendo de navios, sejam particulares, mercantes, científicos ou de guerra. Apenas sei que são pesados, possuem cascos possantes, um deque principal, e podem ter vários deques secundários, em parte submersos, abaixo da linha do mar.

No início do século 21, tive a oportunidade de conhecer um moderno navio francês, destinado à aquisição de dados sísmicos (foto abaixo). Embora estivesse a trabalho para a empresa que o utilizava na costa brasileira, guiado por dois tripulantes, fui apresentado à tecnologia de ponta instalada nos 6 deques submersos.

Moderno navio para levantamento de dados sísmicos off shore

Moderno navio para aquisição de dados sísmicos off shore

Ao fim, houve uma comemoração a bordo: pães, frios, queijos , vinhoschampanhe francês. Recebi, como prêmio por serviços prestados – o que agradeço até hoje –, uma medalha prateada, com a imagem gravada deste navio:  medalha pesada como uma âncora.

Através desta experiência, é lógico deduzir que se um navio estiver aportado em um cais, é por que suas âncoras foram lançadas. Navios de maior porte podem exigir várias âncoras, todas presas a eles por pesadas correntes de aço.

O binômio “âncora e correntes” possui seu peso calculado de forma precisa por engenheiros navais. E esse peso é específico para cada navio, de forma a mantê-lo firme junto ao porto ou fundeado, a flutuar sobre as águas, como na foto. Entretanto, é evidente que este peso não pode fazê-lo adernar, muito menos naufragá-lo.

Atualmente, esse cálculo é bem simples e preciso. Há muito tempo que a engenharia naval criou critérios, parâmetros e fórmulas para fornecer o peso da “âncora e correntes” de forma automática.

Porém, pensem nisso: ─ Mas se este cálculo fosse feito por uma quadrilha de ladrões navais? Será que saberiam balancear o peso das âncoras e correntes requeridas por um grande navio?

navio Petrobras

O investimento no aumento da produtividade de uma empresa petroleira é o que a faz manter-se no disputado mercado internacional de óleo e gás. Pode-se fazer uma analogia: investir de forma produtiva, significa garantir o crescimento gradual do casco e dos deques da petroleira, bem como, sobretudo, de suas “âncoras e correntes”, para que aporte com destaque em qualquer cais do furioso mercado competitivo mundial.

O que foi descoberto na Petrobras, através da operação Lava Jato, é que houve investimento pesado no casco da empresa, não há dúvida. Porém, bilhões do dinheiro público que eram para ser investidos em “deques submersos, âncoras e correntes”, invisíveis aos olhos do povo brasileiro, foram desviados de forma organizada e criminosa por uma quadrilha de ladrões navais“.

O cenário atual da Petrobras mostra que ela se encontra à deriva nas águas do mercado internacional, sem condições de aportar em qualquer cais do mundo. Pode estar em linha de choque com rochedos. Pobre de sua tripulação e da multidão de seus fornecedores. Afinal, seus deques submersos, âncoras e correntes foram surrupiados e transformados em propriedades particulares: fazendas, milhares de cabeças de gado, aviões, caras obras de arte, residências e apartamentos de luxo, carros importadosinvestimentos em lavanderias off shore e, decerto, coisas bem leves como punhados de diamantes.

2 pensamentos sobre “Martírio naval: o ocaso da Petrobras

  1. Boa matéria, boa analogia. Já nem gosto de falar da Petrobrás. Estes criminosos acabaram com tudo. Mas nenhum político é bandido sozinho. O povo brasileiro gosta de ser enganado, gosta de se fazer de coitadinho. Ou de ficar calado desde que de alguma forma esteja levando vantagens pessoais. O Congresso Nacional e o Governo Federal são a cara da maioria do povo, e lá está devidamente representado.

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    • Paulo César, boa tarde.

      Concordo com você que, em tese, todos os políticos eleitos no Brasil refletem a vontade do seu povo. Isso deveria ser óbvio, mas tenho sérias dúvidas, que não são gratuitas. A maquininha de votar adotada no Brasil é um lixo mundial. Nenhum outro país a utiliza, função das inúmeras facilidades de servir à falsificação de votos.

      Também bem acho que boa parte do povo brasileiro é masoquista. Ainda que este estado esteja a mudar, com 2 milhões de pessoas nas ruas, em 15 de março passado. Por outro lado, a maior parte dos políticos eleitos ou nomeados para o governo federal é sádica, gosta de ver o povo sofrer.

      Por fim, não tenho dúvida que existem muitos sádicos não eleitos ou nomeados que apoiam o governo da barbárie que temos há 12 anos. Estes formas os chamados movimentos sociais – MST e MTST, dentre outros.

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